CONTRA A
CORRENTE
NO MINISTÉRIO
DA FAZENDA (*)
Luiz Carlos Bresser Pereira
Comentários de Eli Diniz, Maria Rita
Loureiro e Angela de Castro Gomes
“Sinto-me honrado por receber este
convite para prestar um depoimento ao IUPERJ sobre minha gestão no Ministério
da Fazenda. Falarei informalmente. Contarei um pouco a história daqueles sete
meses e meio no Governo federal.”
O Plano Bresser
Minha atuação como ministro da Fazenda,
durante os sete meses e meio em que permaneci no cargo, pode ser dividida em
quatro batalhas (ou quatro ternas de que tratei sucessivamente na área
econômica), além da minha atuação política e do processo da minha saída. As
batalhas sucessivas foram: (1) a do novo congelamento, em maio e junho; (2) a
do Plano de Controle Macroeconômico, até julho; (3) a da dívida externa, entre
agosto e outubro; e (4) a batalha da reforma fiscal e do novo ajuste fiscal, em
novembro e dezembro. É claro que me preocupei ao mesmo tempo com muitos
problemas, mas em cada momento dei maior ênfase a um determinado assunto, e
cada problema representou uma verdadeira batalha.
No plano econômico, a primeira questão
era a crise financeira e econômica aguda por que o país passava naquele
momento. Na semana em que assumi, Celso Furtado e Olavo Setúbal me disseram que
o Brasil não tinha uma crise como aquela pelo menos desde 1931. Depois daquele
ano, concluí que nem em 1931 a crise foi tão grave. Os salários já haviam caído
mais de 20% desde novembro de 1986, a economia estava entrando em fortíssima
recessão, a inflação explodia em direção à hiperinflação, as falências e
concordatas batiam todos os recordes da história do país. Nunca antes tivemos
tantas falências e concordatas de pequenas e médias empresas, exatamente as que
mais haviam se endividado, investindo durante o Plano Cruzado. Finalmente, o
balanço de pagamentos estava totalmente deteriorado. O país, que tinha
superávits comerciais de aproximadamente um bilhão de dólares por mês, tinha
agora déficit na balança comercial. Apesar da moratória, que incidia
exclusivamente sobre os empréstimos de longo e médio prazo aos bancos privados,
as reservas brasileiras tendiam a se esgotar rapidamente.
Em meu discurso de posse eu disse que a
situação era grave, que eram necessárias medidas de ajustamento adicionais,
porque a economia estava novamente desajustada devido ao Plano Cruzado. Disse
ainda que a economia não deveria crescer mais do que 3% em 1987 e que era
preciso voltar a economia para a exportação, de forma a recuperar o superávit
comercial. Lembro - esse é um aspecto político-ideológico que deverá interessar
ao IUPERJ - que no dia seguinte já começaram as críticas, provenientes
principalmente do meu partido, o PMDB. Diziam que eu era
conservador, de direita, que apoiava a recessão e o modelo exportador. Era o
velho populismo no ataque. A partir daquele momento, ficou claro para mim que
uma das minhas missões seria a de distinguir um economista
progressista de um economista populista.
Hoje, de volta à minha atividade
intelectual, continuo concentrado nessa tarefa. Não faz sentido dizer que quem
fala em ajuste fiscal e em ajuste de balanço de pagamentos é de direita. Esta é
a visão de certa parte da esquerda - a esquerda populista - ridícula e
ultrapassada, uma esquerda que me deu muito trabalho, quase tanto trabalho
quanto a direita fisiológica. A diferença estava no fato de que essa esquerda
era em geral bem-intencionada. Apenas pensava de forma superada, em termos dos
anos 50. Para me ajudar a dialogar com essa esquerda, entre a qual havia
excelentes políticos, Fernando Henrique Cardoso teve um papel muito positivo,
me dando o apoio que eu esperava do José Serra, mas não tive em nenhum momento.
Serra nunca se confundiu com os populistas; pelo contrário, criticava-os
severamente. Mas quando precisei dele para defender-me, não o encontrei. Disse
isso a ele então, com muita franqueza. Somos velhos amigos. Na convenção do
PMDB em Brasília, no início de agosto, um grupo queria me expulsar do partido
devido às minhas posições “ortodoxas”, mas ali pude contar, entre os
economistas do partido, com Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares e Luciano
Coutinho.
Mas deixemos os temas políticos para
depois. O que eu deveria fazer, imediatamente, era enfrentar a crise
econômico-financeira aguda que o país atravessava e que deixava a todos
perplexos. Para reequilibrar a balança comercial, anunciei imediatamente uma
mididesvalorização do cruzado. E tomei a decisão de fazer um novo choque de
preços. Este choque teria como objetivo fundamental resolver a crise e não
acabar com a inflação. Sabia perfeitamente que terminar com a inflação seria
impossível nas condições em que se faria o choque: o ajuste fiscal por fazer,
os preços relativos profundamente desequilibrados, e sem a possibilidade de congelar
a taxa de câmbio - que, de fato, não congelei - porque as reservas do país
estavam se esgotando.
O Plano Bresser foi anunciado no dia 12
de junho, um mês e 13 dias depois que assumi. Seria necessariamente uma medida
de emergência, não para acabar definitivamente com a inflação, mas para
reequilibrar macroeconomicamente a economia - o que foi conseguido. Para
formular esse plano, Nakano, Chico Lopes e eu trabalhamos intensamente durante
três semanas; depois, chamamos os demais membros da equipe, aos poucos. O
Presidente Sarney, a quem havia apresentado o problema no final da minha
primeira semana no Ministério, aprovou o projeto sem hesitar.
Era importante, nesse congelamento, que
não se repetissem os erros do Plano Cruzado, para que não houvesse depois um
excesso de demanda. Era importante tomar medidas conjuntas e violentas para
controlar o déficit público. Tratei de fazê-lo. Os jornais da época mostram
que, no mesmo dia em que foi feito o congelamento, foram tomadas medidas fortes
para reduzir o déficit público. Consegui, depois de longa batalha com o
Presidente Sarney, que ele adiasse a construção da Ferrovia Norte-Sul. Criei a
Comissão de Controle do Plano de Estabilização, dirigida pelo Maílson e
coordenada pelo Cláudio Adilson Gonçalez, que teve um papel decisivo na
contenção de todas as despesas sem previsão orçamentária que tradicionalmente
vazavam pelo Conselho Monetário Nacional. O Banco Central foi liberado de
funções de fomento. A Secretaria do Tesouro, que havia sido criada por Dilson Funaro,
foi fortalecida e passou a controlar ,o endividamento público. O orçamento
foi unificado, acabando-se com a idéia do “orçamento monetário”, dispositivo do
regime militar que permitia a autorização de despesas e subsídios não previstos
no orçamento oficial.
Na verdade, eu tinha uma idéia mais
radical ainda. Minha intenção era a de, no dia do congelamento, dar
independência ao Banco Central. Idéia que surgiu de uma conversa com Francisco
Gros, no dia em que ele deixou a presidência do Banco. Gros manifestou seu
inconformismo com a minha decisão, argumentando que o presidente do Banco
Central não devia depender da nomeação do ministro da Fazenda. Concordei com
ele, em tese, mas observei que, não havendo essa prática no Brasil, teria sido
um enorme sinal de fraqueza manter um presidente do Banco Central que eu mal
conhecia. A idéia de dar independência ao Banco Central parecia-me, entretanto,
essencialmente correta. Ainda que a política monetária nunca possa ser
inteiramente independente da política econômica geral, especialmente em
momentos de crise, uma independência maior seria muito conveniente. O momento
para assegurar essa independência poderia ser o lançamento do novo plano de
estabilização.
Para executar a idéia chamei o Maílson
e pedi a ele que ajudasse a preparar as medidas necessárias. Maílson disse
então duas coisas muito interessantes. Primeiro, que era cedo para conceder a
independência ao Banco Central. Ainda que em princípio fosse a favor da idéia,
não via condições práticas para sua adoção, dado o desequilíbrio fiscal do
Estado. Por isso, propunha a tomada de uma série de medidas adicionais,
preparatórias para essa independência, incluindo a colocação de todo o sistema
de endividamento das empresas no orçamento da União e a criação de uma comissão
financeira pela qual passassem todas as medidas que implicassem aumento de
gasto público ou aumento de financiamento. Tudo isso foi feito.
A segunda afirmação de Maílson foi a
grande lição que aprendi com ele:
- O maior problema do ministro da Fazenda
no Brasil é que ele tem poder demais. Tendo poder demais, tem o poder de
imprimir dinheiro, e todas as pessoas sabem disso: o Presidente, os ministros;
os parlamentares, os empresários. Eles pressionam o ministro, direta ou
indiretamente, de todas as formas. E o ministro acaba cedendo. Assim, a única
forma de resolvermos esse problema, a médio prazo, é reduzindo 0poder do
próprio ministro nessa área.
Apesar denta afirmação, Maílson
entendia que era cedo para tornar o Banco Central independente. Aconselhou-me a
ir mais devagar, e foi o que fiz. Inclusive porque era a decisão mais coerente
com um congelamento de emergência e, portanto, provisório.
Nakano, Chico e eu, nas conversas que
tivemos enquanto planejávamos o congelamento, prevíamos que a inflação estaria
em torno de 10% em dezembro (afinal, ficou em 14 por cento). No início de 1988,
depois de corrigidos os preços relativos, aprofundado o ajustamento
fiscal e negociada a dívida externa, seria possível implantar um plano de
estabilização definitivo. É freqüente se ouvir dizer que “ já tivemos dois
congelamentos fracassados”. Não concordo. Naquilo a que se propunha, o Plano
Bresser não fracassou. Pelo contrário, foi bem sucedido, porque resolveu os
demais desequilíbrios da economia: logrou dar uma parada na inflação (que se
acelerava rumo à hiperinflação) e interrompeu a queda dos salários, que
voltaram a crescer ligeiramente. Sustou, também, a tendência recessiva. O
desemprego, que aumentava fortemente, foi contido, e houve mesmo uma retomada moderada
do nível de emprego. As duas mididesvalorizações - uma dois dias depois que
assumi e outra no dia do congelamento – e o ajustamento interno que estava
sendo feito permitiram que as exportações se recuperassem, as importações se
reduzissem e a balança comercial se reequilibrasse. A verdadeira onda de
falências e concordatas também acabou, graças ao congelamento e a um programa,
formulado pelo Banco Central, de socorro às pequenas e médias empresas, através
de financiamento parcialmente subsidiado.
Fiz questão de que o congelamento
tivesse curta duração. Estabeleci o prazo de três meses. Sabia perfeitamente
que os preços relativos estavam extremamente desequilibrados, mas não houve
tempo para preparar o congelamento, corrigindo previamente os desequilíbrios,
já que era necessário agir o mais depressa possível. Assim, embora prevendo que
o congelamento seria o mais rápido possível, antes de liberar os demais preços
eu sabia que teria que corrigir os preços dos setores oligopolistas mais
importantes. Não podia deixar, como ocorreu no Plano Cruzado, que alguns preços
ficassem atrasados durante meses, com grave prejuízo para as empresas. Para
isso era preciso, de um lado, elevar os preços atrasados e, de outro, liberar
os preços de todos os setores que não fossem claramente dominados por
oligopólios. E, em seguida, liberar tudo o que fosse possível. Foi o que fiz.
Quando saí do Ministério, creio que havia menos preços sob controle do que
quando assumi.
Essa foi a primeira batalha: a batalha
do congelamento, a batalha do Plano Bresser, a batalha de como resolver a crise
financeira e econômica aguda por que passava o país. Uma batalha cheia de
tensão e angústia, mas que, afinal, foi compensadora.
NOTA
* Luiz Carlos Bresser Pereira foi
ministro da Fazenda entre 29 de. abril e 20 de setembro de 1987. Este
depoimento foi prestado oralmente ao Instituto Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro (ILJPERJ), em 16 de setembro de 1988, e publicado, numa versão
preliminar, em Cadernos de Conjuntura, n° 16, dezembro de
1988, IUPERJ.
PLANO CRUZADO
Origem: Wikipédia, a
enciclopédia livre.
O Presidente do Brasil, José Sarney, promoveu o Plano Cruzado.
O Plano Cruzado foi um
conjunto de medidas econômicas, lançado pelo governo brasileiro em 28 de fevereiro de 1986, com base no decreto-lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986,1 sendo José Sarney o presidente da República e Dilson Funaro o ministro da Fazenda. Foi o primeiro plano econômico nacional em larga escala desde o
término da ditadura militar.
As principais medidas contidas
no Plano eram:
- congelamento de preços de
bens e serviços nos níveis do dia 27 de fevereiro de 1986;
- Congelamento da Taxa de
Câmbio por um ano em 13,84 Cruzados = 1 Dólar e 20,58 Cruzados = 1 Libra
- reforma monetária, com
alteração da unidade do sistema monetário, que passou a denominar-se cruzado (Cz$)2 , cujo valor correspondia a mil unidades de cruzeiro;
- substituição da Obrigação
Reajustável do Tesouro Nacional ORTN, título da dívida pública instituído em 1964, pela Obrigação
do Tesouro Nacional (OTN), cujo valor foi fixada em Cz$106,40 e congelado por um ano;
- congelamento dos salários
pela média de seu valor dos últimos seis meses e do salário mínimo em Cz$
804,00, que era igual a Aproximadamente a US$ 67,00 de Salário Mínimo
- como a economia fora
desindexada, institui-se uma tabela de conversão para transformar as
dívidas contraídas numa economia com inflação muito alta em dívidas
contraídas em uma economia de inflação praticamente nula;
- criação de uma espécie de
seguro-desemprego para aqueles que fossem dispensados sem justa causa ou em virtude
do fechamento de empresas;
- os reajustes salariais
passaram a ser realizados por um dispositivo chamado "gatilho
salarial" ou "seguro-inflação", que estabelecia o reajuste
automático dos salários sempre que a inflação alcançasse 20% 3
·
Além de Dilson Funaro, outros
economistas participaram da elaboração do Plano, como o Ministro
do Planejamento João Sayad, Edmar Bacha, André
Lara Resende e Persio Arida. No dia 16 de janeiro, João
Sayad, Persio Arida, André Lara Resende, Oswaldo de Assis e Jorge Murad (genro
do presidente Sarney) votaram a favor do Plano, ao passo que Dilson Funaro, João Manuel Cardoso de Mello, Luiz
Gonzaga Belluzzo, Andrea Calabi e Edmar Bacha acharam-no muito arriscado [carece de fontes]. Com a
recusa da maioria, João Sayad, Ministro do Planejamento, afirmou que iria pedir
demissão. Em um momento político delicado, de insegura consolidação da Nova República, Jorge
Murad convenceu Sarney a adotar o Plano Cruzado, apoiando Sayad, Persio Arida,
Andre Lara Resende e Jorge Murad, a favor do Plano.
·
Uma vez adotado, o plano logo conquistou maciço apoio
popular.
·
A hiperinflação criou tumultos no dia-a-dia das pessoas,
nas tarefas do cotidiano. Então, de repente a gente acorda no dia 28 de
fevereiro de 1986 e fala assim: acabou a inflação, a moeda é outra, corta
zeros, tudo agora vai ser diferente, tem uma "tablita" para você
pagar suas contas e cobrar as dívidas dos outros, e tudo é diferente. Os preços
vão ser tabelados. Está aqui a tabela.4
·
Assim, mesmo os seus opositores iniciais acabaram por
apoiá-lo com entusiasmo. Todos reivindicaram para si a paternidade do plano,
enquanto fez sucesso, mas quando mostrou suas deficiências, seus
"pais" passaram a rejeitar o "filho".
Medidas iniciais
Um exemplo de medida heterodoxa e keynesiana na economia, o
objetivo principal do plano foi conter a inflação e para isso
foram adotadas várias medidas, sendo as principais:
- Substituição da
moeda do Brasil de Cruzeiro para o Cruzado e divisão do valor de face por 1000, fazendo Cr$
1.000,00 = Cz$ 1,00.
- Suspensão da correção
monetária
generalizada. A correção monetária provocava uma indexação quase completa
da economia e realimentava a expectativa inflacionária (Kirsten, 1986);
- O congelamento de preços pelo prazo de um ano, isto é, a fixação de todos os
preços nos níveis de 27 de fevereiro de 1986 - medida adotada para
eliminar a memória inflacionária. O congelamento era fiscalizado por
cidadãos que ostentavam, orgulhosos, buttons de fiscal do Sarney,
depredavam estabelecimentos que aumentavam preços e chegaram dar voz de
prisão a gerentes de supermercados;
- Antecipação dos
reajustes salariais, unificando a época dos dissídios, inclusive com
antecipação de 33% do salário mínimo (Kirsten, 1986);
- Implantação da escala
móvel de salários ou "gatilho salarial", isto é, correção
automática dos salários sempre que a inflação acumulada pelo IPCA
ultrapassasse 20%.
Diferenças entre plano cruzado e plano austral
Israel e Argentina já haviam
implementado planos similares e uma adoção de um plano no Brasil era questão de
tempo pois a inflação de 12% a 14% ao mês era irreversível, mas ainda não
explosiva (Longo, 1986). Com isso, ainda não havia uma sincronização das datas
de reajustes, apresentando discrepâncias como o reajuste diário do câmbio do dólar e reajuste
semestrais para salários, aluguéis e prestações do SFH (Martone, 1986)
Polêmicas
Datas utilizadas nas conversões de preços e salários
Um erro foi terem esquecido de
trazer os preços a prazo de 30, 60, 90 dias ao seu valor presente a vista. Em
vez de congelamento, ocorreu um aumento de 17%, 34%. Produtos vendidos com 30
dias tiveram um aumento real de 17%, a inflação media da época embutida nos
preços. Produtos como brinquedos que tinham 180 dias de prazo, tiveram aumentos
reais de 256%, no caso de empresas do setor de brinquedos como, por exemplo a Trol [1], de propriedade
do ministro da fazenda. Persio Arida se desculpou do erro, alegando que
estudara Argentina e Israel que estavam em hiper-inflação, quando não há mais
vendas a prazo. Este erro na propria regra de congelamento desorganizou os
preços relativos da economia, paralisou a produção por um mês e criou a famosa
briga pelo "deflator" onde fornecedores e clientes discutiam novos
preços reais.
Fatores de fracasso
Congelamento e cristalização de preços relativos
O plano começou a fracassar
exatamente devido ao desequilíbrio dos preços relativos da economia. Por não
equalizarem o valor presente dos preços, muitos produtores que corrigiam seus
preços entre dia 1 a 15 do mês, ficaram com o preço tabelado abaixo da
rentabilidade desejada ou até mesmo abaixo do custo de produção: algo que ou
inviabilizava a venda dos produtos para o consumo, ou levava a uma queda na sua
qualidade. Saíram beneficiadas as empresas que reajustaram seus preços nos dias
anteriores ao plano.
Como o congelamento não permitiu o
ajuste dos preços sujeitos à sazonalidade, houve um desequilíbrio de preços. E
como resultado disso, vieram o desabastecimento de bens e o surgimento de ágio
para compra de produtos escassos, principalmente os que se encontravam na
entressafra (carne e leite) e de mercados oligopolizados (automóveis).
Além desses fatores, alguns
economistas apontam o abono concedido ao salário mínimo (aumento real de 16%),
e ao funcionalismo público (abono de 8%) como responsável por um aumento do
consumo - algo que pressionou ainda mais a demanda, impedida de ser
contrabalanceada por um aumento de preços.
Ausência de controle de gastos do governo
Outros fatores que levaram ao
fracasso do plano:
- a falta de medidas
econômicas por parte do governo para controlar os gastos públicos;
- o congelamento da
taxa de câmbio, algo que levou o país a perder uma parcela considerável de
reservas internacionais;
- os juros reais da
economia estavam negativos, algo que desestimulava a poupança e
pressionava o consumo.
Proximidade eleitoral
Algumas medidas corretivas ainda
foram tomadas pelo governo. A proximidade das eleições, entretanto, fez com que
o governo evitasse medidas impopulares que garantissem a sobrevivência do
Plano. Só depois das eleições - em que, aliás, o PMDB elegeu 22
governadores e o PFL, também
governista, 1 governador -, o governo impôs tais medidas - por exemplo, o
descongelamento de preços. Mas já no ano seguinte, a inflação se reaceleraria
num grau maior que o do anterior ao plano.
Para muitos oposicionistas - entre
eles, Delfim Netto -, o
Plano Cruzado era inconsistente, populista e eleitoreiro: um plano que visava
apenas a aumentar a popularidade do governo e de seus candidatos durante a
eleição.
Nas eleições de novembro, o PMDB
obteve a maioria absoluta das cadeiras no Congresso Nacional. Foi até cunhada,
por isso tudo, a expressão "Estelionato Eleitoral". Seja como
for, o plano naufragou de vez logo após as eleições. A população se revoltou
com quebra-quebra de ônibus e invasão de supermercados. A hiperinflação se
instalou, sem controle.
Resultado
O Plano Cruzado não apenas
fracassou, como dele resultaram muitas ações judiciais até hoje em curso, na
qual cidadãos comuns exigem de bancos e governos a reparação das perdas
monetárias sofridas. "Cada brasileira ou brasileiro será um fiscal dos
preços em qualquer lugar do mundo. Ninguém poderá, a partir de hoje, praticar a
industria da remarcação. O estabelecimento que o fizer poderá ser fechado, e
esta prática ensejará a prisão dos representantes"
O Plano Cruzado também teve como
resultado uma deterioração na balança de pagamentos do país com a consequente
queda nas reservas internacionais. Sem condições para honrar os compromissos
externos, o Brasil teve que decretar a moratória da dívida externa em 1987.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Cruzado
PLANO VERÃO
O Plano Verão,
instituído em 16 de Janeiro de 1989,
foi um plano econômico lançado pelo governo do presidente brasileiro José Sarney, realizado pelo ministro Maílson
Ferreira da Nóbrega, que havia assumido o lugar de Bresser Pereira.
Devido à crise inflacionária da década de 1980, foi editada
uma lei que modificava o índice de rendimento da caderneta, promovendo ainda o
congelamento dos preços e salários, a criação de uma nova moeda, o Cruzado Novo, inicialmente atrelada em
paridade com o Dólar e a extinção da OTN, importante fator de
correção monetária.
Assim como ocorreu no Plano Bresser, o Plano Verão também gerou
grandes desajustes às cadernetas de poupança, em que as perdas chegaram a
20,37%.
Nenhuma regra foi
definida em relação a ajustes salariais. Atualmente, até dezembro de 2008,1 estas perdas podem ser reclamadas na justiça.
O bloqueio da liquidez da maior parte dos haveres
financeiros em março de 1990, o Plano Collor, uma das mais drásticas
intervenções do Estado na economia no Brasil, teve origens no debate sobre o
fracasso das políticas de estabilização dos anos anteriores, em especial os
choques heterodoxos do governo Sarney. O bloqueio procurou enfrentar, de uma só
vez, os três problemas identificados nos choques: (i) a tendência de
monetização acelerada e de explosão da demanda em momentos de desinflação
abrupta, (ii) as implicações da elevada liquidez dos haveres financeiros e da
moeda indexada” e (iii) as precárias condições de financiamento da dívida
pública mobiliária. O debate apontava para a possibilidade e mesmo para a necessidade
de medidas não convencionais em relação aos três problemas. A gênese do Plano
Collor, ou seja, como e quando foi formatado o programa propriamente dito,
desenvolveu-se na assessoria de Collor a partir do final de dezembro de 1989,
depois da vitória no segundo turno. O desenho final foi provavelmente muito
influenciado por um documento discutido na assessoria do candidato do PMDB,
Ulysses Guimarães, e depois na assessoria do candidato do PT, Luís Inácio Lula
da Silva, entre o primeiro turno e o segundo. Apesar das diferenças nas
estratégias econômicas gerais, as candidaturas que se enfrentavam em meio à
forte aceleração da alta dos preços, submetidas aos riscos de hiperinflação
aberta no segundo semestre de 1989, não tinham políticas de estabilização
próprias. A proposta de bloqueio teve origem no debate acadêmico e se impôs às
principais candidaturas presidenciais.
INFLUENCIAS DO PLANO VERÃO NA ATUALIDADE
Os mecanismos de correção monetária
do Plano Verão, de 1989, são inconstitucionais. Foi o que decidiu o Supremo
Tribunal Federal, por maioria, nesta quarta-feira (20/11), concluindo um
julgamento cujo primeiro voto foi proferido em 2001, pelo ministro Marco
Aurélio, relator da matéria. Com a decisão, a Fazenda deverá recalcular o
índice de correção do Imposto de Renda devido por empresas que foram afetadas
pelas regras de correção fixadas no Plano Verão.
A decisão desta quarta está sendo encarada como uma prévia do resultado
do julgamento dos planos econômicos, que o Supremo deve julgar no dia 27 de novembro.
É nessa data que o STF vai decidir se os planos econômicos dos anos 90 (Collor
I e II, Cruzado, Bresser e Verão) foram constitucionais ou não. O que se
discute é se devem ser pagas as diferenças apuradas entre os índices de
correção da poupança fixados pelos planos econômicos e os índices de inflação
da época. Essa diferença são os chamados expurgos inflacionários, que são alvo
de quatro recursos extraordinários e uma Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF).
O que foi definido nesta quarta pelo Supremo foi que os índices
definidos pelo Plano Verão foram inconstitucionais. Isso porque as leis que
definiram as correções para pessoas jurídicas fixaram o índice de correção,
chamado de Obrigação do Tesouro Nacional (OTN), em 6,92 cruzados novos,
baseadas na inflação oficial de janeiro de 1989, de 44,49%. Era esse o valor
que vinha sendo usado pela União para fazer o cálculo da correção monetária do
Imposto de Renda devido pelas empresas. O Plano Verão valeu até 1990, quando
foi editado o primeiro Plano Collor.
Só que, de acordo com o alegado pelas companhias, a inflação real do
período, calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
por meio do IPC, fora de 70,28%, o que levou a OTN a 10,50 cruzados novos.
O efeito prático dessa diferença é que, como a União usava como base de
cálculo da correção monetária um índice inflacionário menor do que o real,
considerava que as empresas tiveram perdas menores do que as reais. Isso,
alegaram, configurou uma situação em que a Fazenda Nacional atribuía aos
contribuintes um lucro maior do que o apurado na época.
As empresas, portanto, pediam que, no cálculo do IRPJ e da Contribuição
Social sobre Lucro Líquido, que têm o lucro e a renda como suas bases de
cálculo, a partir do ano de 1994, quando veio o Plano Real e amainou a
inflação, não fossem considerados os índices fixados pelo Plano Verão.
PLANO INFLAÇÃO
A volta do dragão
Escalada de preços de produtos e serviços é uma realidade e o
governo adia reajustes que serão inevitáveis nos próximos meses. Desorganização das finanças públicas é o
maior problema
Cezar Santos
A inflação começa a atingir níveis preocupantes, afirmam
economistas. O governo, por seu lado, mostra otimismo em público, mas suas
ações denotam que o sinal amarelo está aceso. Há poucos dias, para evitar que
aumentos de preços se concentrem no começo deste ano, pressionando a inflação,
o ministro Guido Mantega pediu aos prefeitos de Rio e São Paulo para adiarem o
reajuste das passagens de ônibus e metrô.
Aliados incondicionais do governo petista, os prefeitos Eduardo Paes (PMDB) e
Fernando Haddad (PT) atenderam o pedido. Mas o aumento nos preços nos
transportes terá de ser dado logo. Adiar reajustes de forma artificial é um dos
truques que o governo tem usado, produzindo o que os economistas chamam de
inflação reprimida.
Na quarta-feira, 23, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), prévia
da inflação oficial do país, teve alta de 0,88% em janeiro, bem acima do 0,69%
de dezembro. A alta foi a maior para o mês desde 2003, quando atingiu 1,98%.
Em 12 meses, o índice ficou em 6,02%, acima dos 12 meses imediatamente
anteriores (5,78%) e mais longe do centro da meta de IPCA do governo, de 4,5%.
Em janeiro de 2012, a taxa fora de 0,65%. Os alimentos ficaram ainda mais caros
do que o esperado, enquanto os serviços voltaram a pesar no bolso das famílias.
A imprensa mostrou que o resultado surpreendeu o mercado financeiro, e
analistas já revisaram para cima as previsões para a taxa fechada do mês —
recuaram um pouquinho no pessimismo no dia seguinte, com a decisão do governo
de antecipar a entrada em vigor da medida que permitirá reduzir as contas de
luz; o desconto nas contas de luz entrou em vigor na quinta-feira 24.
Em janeiro, os gastos com alimentos e bebidas subiram 1,45%, resultando no
maior impacto na inflação, uma contribuição de 0,35 ponto porcentual no índice
total. Seja pela falta de chuva ou excesso dela, itens importantes no orçamento
das famílias ficaram mais caros, como hortaliças, feijão-carioca, tomate,
cebola, frango, frutas e carnes.
Em mais uma prova de que o problema da inflação é preocupante, o presidente do
Banco Central (BC), Alexandre Tombini, na quarta-feira, em Davos, na Suíça,
disse em alto e bom som que o BC trará a inflação para a meta de 4,5%. “Vamos
controlar a inflação”, prometeu, rejeitando a acusação de que o governo
abandonou os instrumentos tradicionais de controle da economia.
Fantasma ou realidade
Mais do que enfocar os aspectos factuais informados nos parágrafos anteriores,
que estamparam as manchetes das editorias de economia dos veículos de
comunicação, o Jornal Opção busca uma reflexão mais analítica
da questão. Afinal, o fantasma da inflação, por enquanto, é só isso mesmo,
fantasma, ou já é realidade?
Claro está que o governo tem agido de forma atabalhoada na busca de imprimir
crescimento econômico sem disparar a inflação, mas parece não estar conseguindo
nem um nem outro. As consequências podem ser traumáticas, como apontam os
especialistas.
O economista José Luiz Miranda, professor da Faculdade Alfa, analisa que
evidentemente há um processo inflacionário em curso no Brasil. Primeiro, pela
desorganização das finanças públicas e, segundo, pela política cambial
equivocada.
Opinião coincidente tem o economista Adriano Paranaíba, professor do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG). Ele diz que o
processo inflacionário é uma realidade desde 2010, momento que o governo não
conseguiu mais convergir a inflação para o centro da meta. “Se não cumpre a
meta significa que perdeu o controle. Contudo, não podemos comparar com o
fantasma das décadas de 80/90, que chegou a alcançar 2.477,15% de inflação no
ano de 1993 (IPCA).”
José Luiz Miranda explica que o processo de desestabilização das finanças
públicas se dá principalmente a partir do governo Lula, e tem continuado com
Dilma Rousseff. “Agora mesmo, a imprensa ressaltou a questão da maquiagem
contábil feita pelo governo.”
Miranda se refere à série de manobras que o Ministério da Fazenda fez para
aumentar receitas e cumprir a meta fiscal de 2012, garantindo artificialmente o
ingresso de pelo menos R$ 15,8 bilhões nos cofres em dezembro. Esse dinheiro
reforçou o superávit primário — a economia feita para pagar as despesas com
juros da dívida —, mas minou ainda mais a credibilidade da política fiscal
brasileira.
O professor da Faculdade Alfa diz que artifícios contábeis desestabilizam as
finanças públicas e isso se reflete no conjunto da economia. O governo passa a
gastar mais, aumenta a demanda. “Se não houver uma contrapartida, tende a gerar
inflação. Mais um dado sobre isso é o que se gasta com propaganda no governo
federal, é impressionante. Propaganda é despesa pública, despesa corrente. As
grandes empresas do governo federal estão gastando uma nota preta e isso tem
impacto nas finanças públicas.”
O professor analisa também outro aspecto, sobre o qual o governo claramente faz
propaganda de cunho eleitoral, a decantada melhoria de renda. Segundo José Luiz
Miranda, trata-se de uma ilusão monetária, que vai se configurar pela
facilidade de crédito para consumo. Ou seja, as pessoas pensam que estão
melhorando de vida porque passam a adquirir determinado bem que antes não
podiam, mas isso é mantido através de endividamento.
Adriano Paranaíba diz que desde o governo anterior, quando se optou pela a via
de crescimento pelo consumo e aumento de crédito, desencadeou-se este processo
— ao gastar mais as pessoas aquecem a demanda, fazendo com que o lado da oferta
destes bens e serviços eleve os preços, pois acredita que a renda deste
consumidor aumentou. Isso causa inflação.
Ele observa que, como o crescimento não veio, o governo optou por intensificar
estas políticas, ano após ano, num aumento das taxas de inflação.
“Somado a isto, pode-se perceber que esta política de curto prazo prioriza o
consumo, e, como no Brasil não existe política de longo prazo (crescimento
tecnológico, formação de mão de obra especializada), causou um
descompasso entre oferta e demanda: demanda aquecida e ‘apagão de mão de obra’,
auxiliando na inflação de custos, via mão de obra escassa”, anota Paranaíba.
Ele diz que outro desencadeador da inflação de custos foi a política cambial,
que em pouco tempo pôs o dólar em R$ 2,04, aumentando o preço dos insumos
importados para a indústria brasileira. “Percebe-se que a retomada da inflação
tem sua explicação em políticas equivocadas do Planalto.”
José Luiz Miranda lembra que os grandes fornecedores de crédito são os bancos
públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica, observando que o Minha Casa
Minha Vida é outro tipo de projeto. “O governo capta recurso através da taxa
Selic e repassa aos bancos públicos para financiarem ou o crédito ou os investimentos
via BNDES [Banco Ncional de Desenvolvimento Econômico e Social] com juros
subsidiados. Vai se criar um hiato, porque se capta a 7% ou a 8% e se empresta
a 4%. Esse hiato vai aparecer em algum momento. É preocupante.”
Miranda afirma que o governo usa instrumentos de política econômica dos anos
60, como mexer no câmbio e reduzir a taxa de juro. Agora, afirma, a economia
contemporânea está interligada no mundo todo. Algumas dessas medidas não têm o
mesmo impacto que teriam antes, quando as economias eram fechadas,
superprotegidas e os países pouco se inter-relacionavam.
“Aí se mexe na taxa de câmbio, a chamada intervenção branca, em que o Banco
Central entra comprando (moeda estrangeira) desmesuradamente para aumentar a
demanda principalmente pelo dólar americano. E faz isso sob o argumento de que
estaria protegendo a indústria nacional para estimular o investimento”,
argumenta José Luiz Miranda.
Ele explica porque essa estratégia não tem dado certo: “Ocorre que muitas
empresas, principalmente as grandes, dependem muito de tecnologia que vem do
exterior — nós estamos ainda engatinhando em termos de inovação tecnológica. E
a aquisição dessa tecnologia é baseada em moeda estrangeira. Isso vai impactar
no custo da empresa. Como essa empresa vai fazer investimento?”
E lembra que no momento em que o governo torna o produto de fora mais caro,
elimina-se a competitividade, que também vai refletir no preço. Isso prejudica
o consumidor. “Daí ocorre a redução da oferta de bens à sociedade. Nesse caso,
a tendência, mais uma vez, é o aumento de preços, ou seja, inflação”, explica.
Um pouco de inflação é bom?
Há um argumento corrente entre determinados setores da equipe econômica de
Dilma Rousseff — e do PT, que cobra da presidente melhores resultados no
crescimento econômico para facilitar a continuação do partido no poder em 2014
—, de que um pouco de inflação é bom, pois dinamiza a economia.
O economista José Luiz Miranda, da Faculdade Alfa, diz que até se
poderia levantar esse argumento, desde que se tenha controle principalmente das
finanças públicas. “Só se tiver um controle muito efetivo da margem absorvível
pela economia. Maquiagem de superávit primário e vários outros elementos provam
que não há esse controle pelo governo Dilma.”
Para o economista Adriano Paranaíba, do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), a discutível tese de que um
pouco de inflação é bom para a economia traduz a insistência num modelo de
crescimento que não vem apresentando resultado.
O governo está expondo o Brasil a fragilidades macroeconômicas por
não aceitar que deva mudar o rumo, seguindo a máxima de que ‘em time que está
ganhando não se mexe’. É verdade que, no auge da crise, necessitávamos de
políticas de curto prazo para evitar uma contaminação externa, mas com o passar
do tempo, exacerbou-se a repetição de medidas. Usando outra máxima, o que
difere o remédio do veneno é a dose”, diz Paranaíba.
Economistas e consultores de variadas correntes apontam que o
governo Dilma está afrouxando os fundamentos da estabilidade econômica
duramente conquistada a partir do Plano Real, instituído por Fernando Henrique
Cardoso (PSDB). Esses fundamentos são baseados no tripé responsabilidade
fiscal, taxa de câmbio flutuante e metas de inflação.
“Praticamente todos os economistas estão tendo essa percepção. A
economia brasileira aguentou até agora porque os fundamentos foram muito fortes
por ocasião da implantação do Plano Real. E digo isso por questão puramente
técnica. Não se está dizendo que não houve erros no processo (do Plano Real),
mas os fundamentos foram muito fortes, e agora estão sendo afrouxados”, afirma
José Luiz Miranda.
Adriano Paranaíba diz que governo apoia-se na estabilidade
econômica brasileira para subsidiar suas políticas inconsistentes. “Porém, um
dia a corda pode arrebentar, e o que levamos anos para conquistar pode-se
perder. Há três anos não conseguimos convergir a inflação ao centro da meta.
Especialistas acreditam que o Banco Central (Bacen) possa já estar pensando em
abandonar o regime de metas.”
Investimentos financeiros
A inflação, evidentemente, mexe com o mercado financeiro e quem
aplica tem essa percepção. Analistas dizem que atualmente as aplicações
financeiras mais procuradas são aquelas atreladas à inflação ou à Selic, como
os títulos de Tesouro Direto corrigidos pela inflação mais juros. Ou seja, o
cenário está voltando ao que era antes da inflação ter sido domada. Essa
vertente de aplicações financeiras indexadas evidencia que a inflação é um
cenário real no País.
Adriano Paranaíba lembra que o mercado financeiro busca os
melhores rendimentos. Com as reduções da taxa Selic, atrelada à mudança de
regras da poupança, Títulos do Tesouro já eram a melhor opção, mesmo sem
inflação. “Com a inflação, esses títulos ganham mais espaço, quando se fala de
rentabilidade.”
José Luiz Miranda reforça que o aplicador busca proteger seu
capital. Se o cenário mostra, pelo mesmo em médio prazo, que começa a perder o
norte, a tendência das pessoas é se protegerem. “Mesmo que a renda fixa não
esteja dando um rendimento como no passado, mas é uma forma de proteção, ou
através do Tesouro Direto, ou mesmo pela Poupança, que sofreu alteração no
rendimento, mas tem isenção tributária, o que a torna relativamente
interessante em relação a outros tipos de aplicação.”
E quais os riscos da volta da inflação? A resposta não é tão óbvia
para quem não viveu o processo inflacionário das décadas de 80 e 90, quando os
preços dos produtos nas gôndolas dos supermercados eram remarcados diariamente,
às vezes mais de uma vez por dia.
“Inflação desestabiliza as contas públicas e a economia. Penaliza aqueles que
detêm menor poder aquisitivo, que não tem como se proteger. Cria insegurança
para investimentos, pois não se sabe o que pode acontecer à frente. É
perniciosa para qualquer economia do mundo. Nós temos uma experiência nisso,
chegamos a ter inflação de 84% ao mês, no final do governo Sarney. E na
Alemanha, antes de Hitler. Inflação arrebenta com a economia de qualquer
país”, diz o economista José Luiz Miranda.
O professor Adriano Paranaíba afirma que o grande risco da
inflação é a perda de poder aquisitivo das famílias. E aí, quem mais perde são
as famílias de baixa renda, ou seja, os mais pobres. “Assim, deflagra-se o
risco de, ao incentivar consumo, com a desculpa de ser um plano de trazer
acesso à renda para as famílias em situação de pobreza, a inflação faça todo
esse esforço ser em vão.”
“O Brasil em marcha à ré para o futuro”
Um cenário muito confuso. É assim que o economista Nathan Blanche vê a economia
brasileira atual. Um dos maiores especialista brasileiros em câmbio, sócio da
Tendências Consultoria Integrada, de São Paulo, ele coordenou diversos projetos
relacionados à legalização e liberação do mercado de câmbio no Brasil.
Blanche — que desenvolve sua atividade profissional em São Paulo,
mas mora em Goiânia —, lembra que a projeção da tendência de inflação é de 5,8%
do IPCA, mas observa que o cenário muito confuso não permite ter certezas.
Segundo ele, o grande problema são as contas públicas.
“O que vai acontecer com a energia elétrica? A redução vai ser
18%, ou 10% ou 15%? Não se sabe. A cada intervenção do governo fica mais
difícil medir a demanda no País, porque a oferta é preocupante. Estamos com
queda na formação de capital bruto”, diz Blanche.
Ele observa que se de fato a demanda for forte, com crescimento como o governo
projeta de 3,5%, a inflação vai ser mais que os 5,8%. “Oficialmente as
tendências são essas, mas meu feeling é de baixista no PIB e altista na
inflação. Oficialmente, por enquanto, as tendências são essas.”
O consultor reforça o argumento lembrando que pesquisa agora da
Fundação Getulio Vargas, sobre confiança do consumidor, mostra pessimismo [o
Índice de Confiança do Consumidor (ICC), medido pela FGV, caiu 0,7% em janeiro
em relação ao mês anterior — a quarta queda consecutiva do indicador. O
levantamento abrange amostra de mais de 2 mil domicílios, em sete capitais, com
entrevistas entre os dias 2 e 21 de janeiro].
“Há dificuldade para analisar o cenário dado o nível de
intervenção que está havendo na economia. Jamais um presidente da República
tinha falado eu vou baixar as taxas de juros. Jamais um ministro da Fazenda
falou em taxa de câmbio. Por isso, as expectativas não são boas.”
Sobre o afrouxamento dos fundamentos econômicos, Nathan Blanche
diz que na semana passada foi entrevistado pelo jornal “Estado de S. Paulo”, e
lembrou um artigo que escreveu no mês passado no diário paulistano, quando
afirmou que a economia brasileira está engatando marcha à ré em direção ao
futuro.
“O tripé que nos deu crescimento sustentável foi embora. Esse
tripé era baseado em responsabilidade fiscal, primeiramente, taxa de câmbio
flutuante e metas de inflação. Hoje não tem meta de inflação, aparentemente o
regime é de meta de crescimento. Comprovam isso as desonerações fiscais, o
incentivo ao consumo que está havendo na tentativa de retomar o crescimento”,
diz o economista.
O resultado, diz Blanche, é crescimento do PIB por volta de 1%.
“Em poucos dias saberemos o índice exato. Mas o fato é que o tripé do crescimento
sustentável não existe mais no Brasil. Começou a deteriorar no final de 2010,
piorando desde que a Dilma assumiu, não só declarado, mas empiricamente. A
condução do Banco Central não dá nenhuma confiança de que de fato existe uma
meta de inflação de 4,5%.”
Nathan Blanche diz que o governo tenta justificar as dificuldades
na economia brasileira com a a crise internacional. O argumento é falacioso,
afirma, porque jamais na história recente do Brasil, de 1970 para cá, o país
teve condições externas tão favoráveis para crescer quanto agora.
“Os produtos em que temos vantagem comparativa, as commodities,
nós exportamos para um mercado de economias que estão crescendo, a Ásia,
principalmente China e Índia, que importam 48% das commodities do mundo, fora
petróleo. O que exportamos está bombando. O mundo nunca esteve tão bom para
nós. Culpar a crise internacional pelo que está ocorrendo aqui é engodo. Nenhum
país no mundo, fora a China, tem uma situação tão confortável como o Brasil”,
diz o consultor.
Um dos mais sérios problemas, diz Blanche, se refere ao câmbio.
Ele lembra que houve 22 medidas entre julho de 2011 e setembro de 2012. O
governo tirou IOF, colocou IOF, aumentou prazo, reduziu prazo, etc. “Qual o
regime cambial do Brasil? Tenho 40 anos de atuação nesse setor, e não sei
dizer. Não é crawling-peg [flutuação gradual para baixo ou para cima numa
determinada porcentagem diária ou semanal]. Não diria que é câmbio fixo. É
câmbio flutuante? Certamente não. Está difícil.”
Com essa instabilidade, segundo Nathan Blanche, não se tem como
montar expectativas positivas no Brasil. “O governo continua dizendo que tem o
tripé, aliás, o Mantega já diz que não é tanto assim. Mas tiraram o tripé e não
colocaram nada no lugar.”
O consultor da Tendências afirma que a grande confiança que o
mercado tinha era o Banco Central, que de fato é um órgão que tem competência
técnica, tem credibilidade, mas tiraram o poder dele. “No Brasil, hoje, se
baixa juro por decreto e não com o que condiga para o cumprimento da meta de
inflação. O BC hoje não tem a mínima autonomia para cumprir sua missão.”
Aliados incondicionais do governo petista, os prefeitos Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Haddad (PT) atenderam o pedido. Mas o aumento nos preços nos transportes terá de ser dado logo. Adiar reajustes de forma artificial é um dos truques que o governo tem usado, produzindo o que os economistas chamam de inflação reprimida.
Na quarta-feira, 23, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), prévia da inflação oficial do país, teve alta de 0,88% em janeiro, bem acima do 0,69% de dezembro. A alta foi a maior para o mês desde 2003, quando atingiu 1,98%.
Em 12 meses, o índice ficou em 6,02%, acima dos 12 meses imediatamente anteriores (5,78%) e mais longe do centro da meta de IPCA do governo, de 4,5%. Em janeiro de 2012, a taxa fora de 0,65%. Os alimentos ficaram ainda mais caros do que o esperado, enquanto os serviços voltaram a pesar no bolso das famílias.
A imprensa mostrou que o resultado surpreendeu o mercado financeiro, e analistas já revisaram para cima as previsões para a taxa fechada do mês — recuaram um pouquinho no pessimismo no dia seguinte, com a decisão do governo de antecipar a entrada em vigor da medida que permitirá reduzir as contas de luz; o desconto nas contas de luz entrou em vigor na quinta-feira 24.
Em janeiro, os gastos com alimentos e bebidas subiram 1,45%, resultando no maior impacto na inflação, uma contribuição de 0,35 ponto porcentual no índice total. Seja pela falta de chuva ou excesso dela, itens importantes no orçamento das famílias ficaram mais caros, como hortaliças, feijão-carioca, tomate, cebola, frango, frutas e carnes.
Em mais uma prova de que o problema da inflação é preocupante, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, na quarta-feira, em Davos, na Suíça, disse em alto e bom som que o BC trará a inflação para a meta de 4,5%. “Vamos controlar a inflação”, prometeu, rejeitando a acusação de que o governo abandonou os instrumentos tradicionais de controle da economia.
Mais do que enfocar os aspectos factuais informados nos parágrafos anteriores, que estamparam as manchetes das editorias de economia dos veículos de comunicação, o Jornal Opção busca uma reflexão mais analítica da questão. Afinal, o fantasma da inflação, por enquanto, é só isso mesmo, fantasma, ou já é realidade?
Claro está que o governo tem agido de forma atabalhoada na busca de imprimir crescimento econômico sem disparar a inflação, mas parece não estar conseguindo nem um nem outro. As consequências podem ser traumáticas, como apontam os especialistas.
O economista José Luiz Miranda, professor da Faculdade Alfa, analisa que evidentemente há um processo inflacionário em curso no Brasil. Primeiro, pela desorganização das finanças públicas e, segundo, pela política cambial equivocada.
Opinião coincidente tem o economista Adriano Paranaíba, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG). Ele diz que o processo inflacionário é uma realidade desde 2010, momento que o governo não conseguiu mais convergir a inflação para o centro da meta. “Se não cumpre a meta significa que perdeu o controle. Contudo, não podemos comparar com o fantasma das décadas de 80/90, que chegou a alcançar 2.477,15% de inflação no ano de 1993 (IPCA).”
José Luiz Miranda explica que o processo de desestabilização das finanças públicas se dá principalmente a partir do governo Lula, e tem continuado com Dilma Rousseff. “Agora mesmo, a imprensa ressaltou a questão da maquiagem contábil feita pelo governo.”
Miranda se refere à série de manobras que o Ministério da Fazenda fez para aumentar receitas e cumprir a meta fiscal de 2012, garantindo artificialmente o ingresso de pelo menos R$ 15,8 bilhões nos cofres em dezembro. Esse dinheiro reforçou o superávit primário — a economia feita para pagar as despesas com juros da dívida —, mas minou ainda mais a credibilidade da política fiscal brasileira.
O professor da Faculdade Alfa diz que artifícios contábeis desestabilizam as finanças públicas e isso se reflete no conjunto da economia. O governo passa a gastar mais, aumenta a demanda. “Se não houver uma contrapartida, tende a gerar inflação. Mais um dado sobre isso é o que se gasta com propaganda no governo federal, é impressionante. Propaganda é despesa pública, despesa corrente. As grandes empresas do governo federal estão gastando uma nota preta e isso tem impacto nas finanças públicas.”
O professor analisa também outro aspecto, sobre o qual o governo claramente faz propaganda de cunho eleitoral, a decantada melhoria de renda. Segundo José Luiz Miranda, trata-se de uma ilusão monetária, que vai se configurar pela facilidade de crédito para consumo. Ou seja, as pessoas pensam que estão melhorando de vida porque passam a adquirir determinado bem que antes não podiam, mas isso é mantido através de endividamento.
Adriano Paranaíba diz que desde o governo anterior, quando se optou pela a via de crescimento pelo consumo e aumento de crédito, desencadeou-se este processo — ao gastar mais as pessoas aquecem a demanda, fazendo com que o lado da oferta destes bens e serviços eleve os preços, pois acredita que a renda deste consumidor aumentou. Isso causa inflação.
Ele observa que, como o crescimento não veio, o governo optou por intensificar estas políticas, ano após ano, num aumento das taxas de inflação.
“Somado a isto, pode-se perceber que esta política de curto prazo prioriza o consumo, e, como no Brasil não existe política de longo prazo (crescimento tecnológico, formação de mão de obra especializada), causou um descompasso entre oferta e demanda: demanda aquecida e ‘apagão de mão de obra’, auxiliando na inflação de custos, via mão de obra escassa”, anota Paranaíba.
Ele diz que outro desencadeador da inflação de custos foi a política cambial, que em pouco tempo pôs o dólar em R$ 2,04, aumentando o preço dos insumos importados para a indústria brasileira. “Percebe-se que a retomada da inflação tem sua explicação em políticas equivocadas do Planalto.”
José Luiz Miranda lembra que os grandes fornecedores de crédito são os bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica, observando que o Minha Casa Minha Vida é outro tipo de projeto. “O governo capta recurso através da taxa Selic e repassa aos bancos públicos para financiarem ou o crédito ou os investimentos via BNDES [Banco Ncional de Desenvolvimento Econômico e Social] com juros subsidiados. Vai se criar um hiato, porque se capta a 7% ou a 8% e se empresta a 4%. Esse hiato vai aparecer em algum momento. É preocupante.”
Miranda afirma que o governo usa instrumentos de política econômica dos anos 60, como mexer no câmbio e reduzir a taxa de juro. Agora, afirma, a economia contemporânea está interligada no mundo todo. Algumas dessas medidas não têm o mesmo impacto que teriam antes, quando as economias eram fechadas, superprotegidas e os países pouco se inter-relacionavam.
“Aí se mexe na taxa de câmbio, a chamada intervenção branca, em que o Banco Central entra comprando (moeda estrangeira) desmesuradamente para aumentar a demanda principalmente pelo dólar americano. E faz isso sob o argumento de que estaria protegendo a indústria nacional para estimular o investimento”, argumenta José Luiz Miranda.
Ele explica porque essa estratégia não tem dado certo: “Ocorre que muitas empresas, principalmente as grandes, dependem muito de tecnologia que vem do exterior — nós estamos ainda engatinhando em termos de inovação tecnológica. E a aquisição dessa tecnologia é baseada em moeda estrangeira. Isso vai impactar no custo da empresa. Como essa empresa vai fazer investimento?”
E lembra que no momento em que o governo torna o produto de fora mais caro, elimina-se a competitividade, que também vai refletir no preço. Isso prejudica o consumidor. “Daí ocorre a redução da oferta de bens à sociedade. Nesse caso, a tendência, mais uma vez, é o aumento de preços, ou seja, inflação”, explica.
Um pouco de inflação é bom?
Há um argumento corrente entre determinados setores da equipe econômica de Dilma Rousseff — e do PT, que cobra da presidente melhores resultados no crescimento econômico para facilitar a continuação do partido no poder em 2014 —, de que um pouco de inflação é bom, pois dinamiza a economia.
“Inflação desestabiliza as contas públicas e a economia. Penaliza aqueles que detêm menor poder aquisitivo, que não tem como se proteger. Cria insegurança para investimentos, pois não se sabe o que pode acontecer à frente. É perniciosa para qualquer economia do mundo. Nós temos uma experiência nisso, chegamos a ter inflação de 84% ao mês, no final do governo Sarney. E na Alemanha, antes de Hitler. Inflação arrebenta com a economia de qualquer país”, diz o economista José Luiz Miranda.
“O Brasil em marcha à ré para o futuro”
Um cenário muito confuso. É assim que o economista Nathan Blanche vê a economia brasileira atual. Um dos maiores especialista brasileiros em câmbio, sócio da Tendências Consultoria Integrada, de São Paulo, ele coordenou diversos projetos relacionados à legalização e liberação do mercado de câmbio no Brasil.
Ele observa que se de fato a demanda for forte, com crescimento como o governo projeta de 3,5%, a inflação vai ser mais que os 5,8%. “Oficialmente as tendências são essas, mas meu feeling é de baixista no PIB e altista na inflação. Oficialmente, por enquanto, as tendências são essas.”
PLANO CRUZADO – 1980 A 1990
O plano Cruzado foi um plano econômico lançado durante o governo de
José Sarney.

O plano foi criado em 1986
pelo ministro da Fazenda (Dilson Funaro), o Brasil vivia um grande estado
de euforia (grandes inflações, eleições, escassez de alguns produtos…). Foi um
ano conturbado, pois em 1985 havia morrido o presidente eleito Tancredo Neves.
As principais medidas
tomadas pelo plano Cruzado foram:
- A moeda corrente brasileira
que era o Cruzeiro foi transformada em Cruzado, seguido de sua valorização (O
cruzado valia 1000 vezes mais);

- Congelamento dos preços
em todo o varejo, os quais eram fiscalizados por cidadãos comuns (fiscais do
Sarney);
- Antecipação do salário
minímo (O governo garantia a antecipação de parte do salário minímo visando
assim estimular o consumo);
- Correção automática do
salário para acompanhar a inflação.
O plano foi um fracasso,
principalmente devido a:
- O principal motivo de
fracasso do plano foi o congelamento de preços, que fez a rentabilidade dos
produtores cairem para perto de zero quando não faziam os mesmos ter prejuízo,
a falta de mobilidade de preços fez os produtos
ficarem ausentes do mercados e até leite não era mais encontrado para se
comprar, foi a época dos consumidores fazerem “estoque” de produtos em casa;
- O governo não era
responsável o suficiente para controlar seus gastos, além de fazer o país
perder grandes quantias de reserva internacional;
- A proximidade das
eleições fez com que o governos tomasse algumas atitudes populistas, evitando
tomar atitudes impopulares para garantir a sobrevida do plano Cruzado.
O plano Cruzado foi um plano econômico lançado durante o governo de
José Sarney.

O plano foi criado em 1986
pelo ministro da Fazenda (Dilson Funaro), o Brasil vivia um grande estado
de euforia (grandes inflações, eleições, escassez de alguns produtos…). Foi um
ano conturbado, pois em 1985 havia morrido o presidente eleito Tancredo Neves.
As principais medidas
tomadas pelo plano Cruzado foram:
- A moeda corrente brasileira
que era o Cruzeiro foi transformada em Cruzado, seguido de sua valorização (O
cruzado valia 1000 vezes mais);

- Congelamento dos preços
em todo o varejo, os quais eram fiscalizados por cidadãos comuns (fiscais do
Sarney);
- Antecipação do salário
minímo (O governo garantia a antecipação de parte do salário minímo visando
assim estimular o consumo);
- Correção automática do
salário para acompanhar a inflação.
O plano foi um fracasso,
principalmente devido a:
- O principal motivo de
fracasso do plano foi o congelamento de preços, que fez a rentabilidade dos
produtores cairem para perto de zero quando não faziam os mesmos ter prejuízo,
a falta de mobilidade de preços fez os produtos
ficarem ausentes do mercados e até leite não era mais encontrado para se
comprar, foi a época dos consumidores fazerem “estoque” de produtos em casa;
- O governo não era
responsável o suficiente para controlar seus gastos, além de fazer o país
perder grandes quantias de reserva internacional;
- A proximidade das
eleições fez com que o governos tomasse algumas atitudes populistas, evitando
tomar atitudes impopulares para garantir a sobrevida do plano Cruzado.
Economia brasileira na década de
oitenta e seus reflexos nas condições de vida população
A
Crise de Endividamento Externo e o Desajuste Interno da Economia Brasileira nos
Anos Oitenta
No início dos anos oitenta há uma
brusca reversão na trajetória de crescimento seguida pela economia brasileira e
esta mergulha na mais grave crise de sua história.
O PIB per capita, que de 1970 a 1980
vinha se expandindo à taxa média de 6,1% a.a., diminui 13% entre 1980 e 1983. A
tímida recuperação apresentada no período de 1984-89 leva o valor desse
indicador apenas a retornar aos níveis observados no início da década, de forma
que se populariza a ideia de que os anos oitenta se constituíram para a
economia brasileira, na “década perdida”.
As raízes dessa crise, que se manifesta
inicialmente como uma crise de endividamento externo, mas que rapidamente passa
a se traduzir no desajuste interno da economia, estão nas políticas adotadas na
década anterior, quando a opção pela manutenção do crescimento econômico após o
primeiro choque do petróleo, e, mais do que isso, a busca do salto definitivo
no aprofundamento do processo de substituição de importações, levaram o Estado
brasileiro a assumir um padrão de financiamento baseado no crescente
endividamento externo. Neste processo, a participação do setor privado na
dívida externa se reduz de 67%, no período 1972/73 para 23% no final da década.
O segundo choque do petróleo em 1979 e
o brusco aumento das taxas de juros internacionais verificado, viriam a
aprofundar a crise externa brasileira através de uma série de mecanismos: pelo
salto nos juros da dívida; por reorientar os fluxos de capital
preferencialmente para os EUA e Europa; e pelo impacto negativo sobre os preços
relativos das “commodities”, itens importantes da nossa pauta de exportação.
Após a moratória mexicana, com a
paralisação da entrada de capital externo, a reciclagem da dívida passou a
exigir a realização de saldos comerciais crescentes e um ajustamento brutal da
política econômica dos países devedores.
Entretanto, tais superávits comerciais
viriam a se traduzir em sérios desequilíbrios na economia brasileira, pois, na
verdade o problema não se esgota na questão da transferência de recursos, mas
se complica pelo fato de que os superávits são obtidos basicamente pelo setor
privado, enquanto a responsabilidade da dívida é do setor público. Ou seja, os
saldos gerados em dólar pelo setor privado deveriam ser transformados pelo
governo em cruzeiros, pela emissão monetária ou pela colocação de títulos junto
ao público, com os previsíveis efeitos inflacionários e/ou recessivos.
Em consequência, aprofunda-se o
endividamento do setor público pela capitalização dos juros da dívida, e a
poupança privada vai crescentemente se colocando a serviço da rolagem da dívida
pública, comprometendo o crescimento econômico.
O que agrava a situação é que à medida
que as expectativas que os agentes financeiros têm sobre a capacidade do
governo saldar seus compromissos vão se tornando cada vez mais desfavoráveis,
tais agentes passam a exigir que os títulos apresentem juros maiores e liquidez
máxima, provocando a deterioração das condições de financiamento da dívida
pública interna.
Assim, a transferência de recursos
privados para o governo e deste para as economias centrais viria a se
transformar num elemento profundamente desestabilizador, e o desajuste externo
a se traduzir no desajuste interno da economia brasileira.
A elevação das taxas de juros, além de
resultar no agravamento das contas públicas, provocaria ainda a aceleração das
taxas de inflação através de dois mecanismos: pelo seu impacto direto sobre os
custos (com o custo financeiro passando a representar parcela crescente do
custo total das mercadorias) e pelo seu impacto indireto, via elevação dos
custos fixos unitários ocasionada pelos seus efeitos recessivos.
Desta forma, a inflação apresenta a
primeira mudança de patamar em 1983 (como consequência do agravamento da crise
e da própria política cambial no período), se reduz acentuadamente em 1986, sob
a influência do Plano Cruzado, e volta a crescer sensivelmente nos três últimos
anos da década, apesar dos sucessivos choques heterodoxos.
A crise econômica além de gerar altas
taxas de desocupação masculina (4,9% no auge da crise, em 1983) e feminina
(4,8%, no mesmo ano), ainda levou a uma forte retração no mercado de trabalho
formal, e, em contrapartida, ao crescimento da proporção dos trabalhadores sem
vínculos formais. Nesse sentido, a participação dos empregados sem carteira
assinada cresce de 41,9% em 1981 para 47,2% em 1983, e apenas em 1987 retorna a
níveis próximos aos do início da década (41,7%).
Resumindo, a crise do endividamento
externo manifestada na economia brasileira na década de oitenta reflete-se em
desequilíbrios internos que impactam desfavoravelmente na situação econômica da
população principalmente através da queda dos níveis de emprego (e crescimento
da proporção de trabalhadores sem vínculos formais) observada nos anos iniciais
da década, e da aceleração da inflação verificada mais nitidamente nos seus
anos finais.
Economia brasileira na década de oitenta e seus reflexos nas condições de vida população
A Crise de Endividamento Externo e o Desajuste Interno da Economia Brasileira nos Anos Oitenta
No início dos anos oitenta há uma
brusca reversão na trajetória de crescimento seguida pela economia brasileira e
esta mergulha na mais grave crise de sua história.
O PIB per capita, que de 1970 a 1980
vinha se expandindo à taxa média de 6,1% a.a., diminui 13% entre 1980 e 1983. A
tímida recuperação apresentada no período de 1984-89 leva o valor desse
indicador apenas a retornar aos níveis observados no início da década, de forma
que se populariza a ideia de que os anos oitenta se constituíram para a
economia brasileira, na “década perdida”.
As raízes dessa crise, que se manifesta
inicialmente como uma crise de endividamento externo, mas que rapidamente passa
a se traduzir no desajuste interno da economia, estão nas políticas adotadas na
década anterior, quando a opção pela manutenção do crescimento econômico após o
primeiro choque do petróleo, e, mais do que isso, a busca do salto definitivo
no aprofundamento do processo de substituição de importações, levaram o Estado
brasileiro a assumir um padrão de financiamento baseado no crescente
endividamento externo. Neste processo, a participação do setor privado na
dívida externa se reduz de 67%, no período 1972/73 para 23% no final da década.
O segundo choque do petróleo em 1979 e
o brusco aumento das taxas de juros internacionais verificado, viriam a
aprofundar a crise externa brasileira através de uma série de mecanismos: pelo
salto nos juros da dívida; por reorientar os fluxos de capital
preferencialmente para os EUA e Europa; e pelo impacto negativo sobre os preços
relativos das “commodities”, itens importantes da nossa pauta de exportação.
Após a moratória mexicana, com a
paralisação da entrada de capital externo, a reciclagem da dívida passou a
exigir a realização de saldos comerciais crescentes e um ajustamento brutal da
política econômica dos países devedores.
Entretanto, tais superávits comerciais
viriam a se traduzir em sérios desequilíbrios na economia brasileira, pois, na
verdade o problema não se esgota na questão da transferência de recursos, mas
se complica pelo fato de que os superávits são obtidos basicamente pelo setor
privado, enquanto a responsabilidade da dívida é do setor público. Ou seja, os
saldos gerados em dólar pelo setor privado deveriam ser transformados pelo
governo em cruzeiros, pela emissão monetária ou pela colocação de títulos junto
ao público, com os previsíveis efeitos inflacionários e/ou recessivos.
Em consequência, aprofunda-se o
endividamento do setor público pela capitalização dos juros da dívida, e a
poupança privada vai crescentemente se colocando a serviço da rolagem da dívida
pública, comprometendo o crescimento econômico.
O que agrava a situação é que à medida
que as expectativas que os agentes financeiros têm sobre a capacidade do
governo saldar seus compromissos vão se tornando cada vez mais desfavoráveis,
tais agentes passam a exigir que os títulos apresentem juros maiores e liquidez
máxima, provocando a deterioração das condições de financiamento da dívida
pública interna.
Assim, a transferência de recursos
privados para o governo e deste para as economias centrais viria a se
transformar num elemento profundamente desestabilizador, e o desajuste externo
a se traduzir no desajuste interno da economia brasileira.
A elevação das taxas de juros, além de
resultar no agravamento das contas públicas, provocaria ainda a aceleração das
taxas de inflação através de dois mecanismos: pelo seu impacto direto sobre os
custos (com o custo financeiro passando a representar parcela crescente do
custo total das mercadorias) e pelo seu impacto indireto, via elevação dos
custos fixos unitários ocasionada pelos seus efeitos recessivos.
Desta forma, a inflação apresenta a
primeira mudança de patamar em 1983 (como consequência do agravamento da crise
e da própria política cambial no período), se reduz acentuadamente em 1986, sob
a influência do Plano Cruzado, e volta a crescer sensivelmente nos três últimos
anos da década, apesar dos sucessivos choques heterodoxos.
A crise econômica além de gerar altas
taxas de desocupação masculina (4,9% no auge da crise, em 1983) e feminina
(4,8%, no mesmo ano), ainda levou a uma forte retração no mercado de trabalho
formal, e, em contrapartida, ao crescimento da proporção dos trabalhadores sem
vínculos formais. Nesse sentido, a participação dos empregados sem carteira
assinada cresce de 41,9% em 1981 para 47,2% em 1983, e apenas em 1987 retorna a
níveis próximos aos do início da década (41,7%).
Resumindo, a crise do endividamento
externo manifestada na economia brasileira na década de oitenta reflete-se em
desequilíbrios internos que impactam desfavoravelmente na situação econômica da
população principalmente através da queda dos níveis de emprego (e crescimento
da proporção de trabalhadores sem vínculos formais) observada nos anos iniciais
da década, e da aceleração da inflação verificada mais nitidamente nos seus
anos finais.
A
Dívida Externa Brasileira – 1970 a 1980
Passo
a Passo da Dívida Externa
·
Se
iniciou há muitos anos, na época em que o Brasil ainda era colônia portuguesa e
realizou empréstimos para “saldar dívidas com Portugal”;
·
Depois
disso, foram sendo feitos sucessivos empréstimos com o intuito de sanar a
primeira dívida, ou na tentativa de alavancar a economia para que fosse
possível salda-la;
·
O
primeiro empréstimo externo do Brasil foi obtido em 1824, no valor de 3 milhões
de libras esterlinas e ficou conhecido como “empréstimo português”, destinado a
cobrir dívidas do período colonial e que na prática significava um pagamento à
Portugal pelo reconhecimento de nossa independência;
·
A
independência não alterou as estruturas sócio econômicas e restringiu-se a um
movimento político muito limitado, mantendo o regime monárquico e o herdeiro
português no trono, aliado aos latifundiários conservadores sob o comando de
José Bonifácio.
·
A
aceitação do pagamento da indenização está ligada aos vínculos mantidos com
Portugal e ao mesmo tempo aos interesses ingleses, que somente reconheceu nossa
soberania após o acordo com Portugal;
·
Em
1829 foi realizado novo empréstimo que passou para a história como “o ruinoso”
e serviu para cobrir parcelas não pagas do empréstimo anterior;
·
Do
total tomado emprestado, o Brasil recebeu apenas 52%, pois o restante serviu para
cobrir os juros da dívida anterior.
·
Dois
novos empréstimos importantes foram realizados durante o Império — em 1843 e
1852 — utilizados ainda para pagar débitos relativos ao primeiro empréstimo,
que somente foi saldado em 1890;
·
Durante
esse período o Brasil ainda endividou-se ainda mais com a Guerra contra o
Paraguai;
·
A
Inglaterra forneceu os navios e empréstimos ao Brasil para o conflito que
também interessava à ela;
·
Durante
a república do “café com leite” o endividamento aumentou ainda mais, porém a ideia
central ainda era a mesma, garantir os privilégios da elite;
·
O
presidente Campos Salles, eleito em 1898, viajou à Inglaterra antes mesmo da
posse, para renegociar a dívida com os banqueiros Rotshild;
·
Ele
firmou um acordo que ficou conhecido como “Funding Loan”, que suspendia o
pagamento por um período de 13 anos;
·
O
pagamento dos juros seria realizado em 3 anos;
·
Como
garantia do cumprimento do acordo, as rendas das alfândegas brasileiras ficaram
hipotecadas aos credores ingleses;
·
Novo
endividamento surgiu em 1906, representando o início da “Política de
Valorização do Café;
·
Neste
ano, foi assinado o Convênio de Taubaté, entre os governadores de São Paulo,
Minas Gerais e Rio de Janeiro, que, a partir de empréstimos tomados no
exterior, comprariam e estocariam o excedente da produção de café;
·
A
valorização, como outras políticas protecionistas, resolvia o problema imediato
da burguesia paulista e mantinha o nível de emprego nos setores da economia
vinculados ao café, porém prejudicava a maioria da sociedade;
·
Os
governos do período continuaram a realizar empréstimos que beneficiavam a elite
cafeeira, contrastando com a situação de crise nas exportações durante a
Primeira Guerra Mundial e posteriormente, na metade da década de 20;
·
Com
a crise iniciada nos EUA afetando a economia do país, o pagamento da dívida foi
suspenso em 1931 por decisão unilateral do Brasil;
·
Em
1934 a Assembleia Nacional Constituinte passou a investigar o endividamento
brasileiro, que chegava a 237 milhões de libras esterlinas;
·
O
ministro Oswaldo Aranha não era um crítico dos empréstimos do exterior, nem
defendia o não-pagamento da dívida;
·
Depois
de viver por alguns anos nos EUA, defendia um estreitamento das relações do
Brasil com aquele país, em detrimento dos interesses ingleses, então nossos
maiores credores;
·
Condenava
apenas a forma pela qual os empréstimos tinham sido aproveitados — não em obras
públicas, como achava que deveria Ter ocorrido;
·
Pensava
ainda que o país deveria parar de tomar emprestado para pagar empréstimos e
deveria pagar com seus próprios recursos;
·
O
ministro destacava a característica básica do endividamento: “foram feitos uns
para pagar os outros, em parte ou no todo, refundindo-se em novos empréstimos”;
·
Apesar
da ausência de empréstimos externos e das condições desfavoráveis do comércio
exterior, nos anos 30 a economia brasileira se expandiu em ritmo maior que na
década de 20, “época de maciço ingresso de capital externo”;
·
No
período posterior ao golpe militar os empréstimos voltam a aumentar
substancialmente, devido a política econômica desenvolvida;
·
Particularmente
no período que ficou conhecido como “milagre econômico”, quando a indústria
brasileira cresceu a taxas elevadíssimas graças ao ingresso maciço de capitais
estrangeiros, fazendo com que a dívida saltasse de 4 para 12 bilhões de
dólares;
·
O
endividamento pós 64 tem dois estágios. O primeiro é o dos governos Costa e
Silva e Médici, nos anos 68-73, do “milagre econômico”;
·
Nesse
período, os empréstimos foram usados para, ao cabo de tudo, realizar ar
operações de crédito na compra de geladeiras, secadores de cabelo, automóveis e
outros bens supérfluos e também para financiar ar grandes obras urbanas e
serviços que viabilizaram a existência dos automóveis e das geladeiras, tais
como estradar, viadutos e redes de energia elétrica;
·
No
final de 1983, em depoimento na CPI da Dívida Externa, Celso Furtado,
economista que fora ministro do Planejamento antes do golpe, mostrou como o
Brasil pòs-64, graças a mudanças de política financeira e cambial – nas regras
de conversão do dólar em cruzeiros -, acabou na prática pagando, através do
Banco Central, para os capitais estrangeiros, parte do preço de automóveis e secadores de cabelo, comprados a crédito obtido por dólares emprestados;
·
A
Segunda fase do endividamento começa no governo do general Ernesto Geisel
(1974-79);
·
A
partir de 74, a indústria de bens de consumo duráveis, com a produção de
automóveis à frente, começa a encalhar, em grande parte devido a crise mundial
do petróleo;
·
Isso
repercute na elevação nas taxas de juros, que somadas aos gastos dos grandes
projetos de geração de energia;
·
Em
1982 temos o ano da falência declarada do modelo brasileiro de desenvolvimento;
·
O
país recorre ao FMI e ao final do governo Figueiredo, que encerra a ditadura
militar, a dívida externa chegava a casa de 100 bilhões de dólares;
·
A
Dívida atual alcança a casa dos 231 bilhões de dólares.
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